Apesar de os produtores orgânicos da Região Serrana Fluminense terem sofrido com o excesso de chuvas, a impossibilidade de escoamento dos produtos e a falta de energia que se seguiram às enxurradas no início do ano, a agroecologia permitiu que eles perdessem menos do que os produtores convencionais.
A agricultura ecológica é praticada com base em leis ambientais e, portanto, há conservação das árvores e das matas ciliares, que são barreiras naturais à alta erosão do solo. Por isso, os danos diretos as lavouras dos sítios orgânicos foram menores e estes sofreram menor impacto com as chuvas.
O agrônomo Kleber Cozzolino, representante do Fórum da Agenda 21 de Teresópolis pela Secretaria Municipal de Agricultura, explica que os principais motivos para as perdas das lavouras convencionais foram o alargamento e o aumento do fluxo dos riachos, além dos grandes deslizamentos. “A capacidade da agroecologia de recuperar sistemas agrícolas após um abalo é sempre maior do que sistemas intensivos (químicos) de manejo”, afirma.
Nesse cenário, Ângela Dupont, que trabalha há oito anos com agroecologia e também é integrante Fórum da Agenda 21 Local, acrescenta que o fato do solo não ser “limpo”, ou seja, dos matos serem preservados para deixar a terra protegida, ajudou a deixar sua lavoura intacta. “Meu sítio está cheio de frutas: goiaba, araçá, limão. A agroecologia respeita todo o sistema, desde as sementes até a colheita e, por isso, funciona. Nós não teríamos nada agora se não tivéssemos preservado”.
O bom resultado da agricultura ecológica teve impacto positivo também nas decisões do governo, que passou a dar mais atenção ao setor. “Por um lado a catástrofe que atingiu a região serviu para mostrar a importância da atividade agrícola tal como prática econômica, mudando a percepção da sociedade com relação às prioridades, até então sempre mais urbanas”, afirma Kleber.
De acordo com o Ministério do Desenvolvimento Agrário, o crescimento do mercado brasileiro de alimentos orgânicos alcança, ao ano, 20% de elevação, e no Rio de Janeiro, a Região Serrana é pioneira tanto em produção quanto em pesquisa. Em 1978, a comunidade dos Albertos, em Petrópolis, foi o primeiro núcleo de produção agrícola do estado, que, somado a um grupo de produtores orgânicos de Nova Friburgo, determinou a formação, em 1985, da Associação de Agricultores Biológicos do Estado do Rio de Janeiro (ABIO). Hoje a ABIO é referência no setor, avaliando a produção e garantido o certificado de qualidade.
Iniciativas em Teresópolis
Kleber conta que, atualmente, Teresópolis revisa o plano diretor do município e as discussões sobre a importância da atividade rural têm tomado mais tempo nos fóruns e conselhos locais. Ao mesmo tempo, a Secretaria Municipal de Agricultura tem apoiado o fortalecimento da Associação Agroecológica de Teresópolis, que hoje possui cerca de 15 agricultores, e a sua feira. Nesse aspecto, Ângela, cujo quiosque Luz do Sol funciona, de segunda a sábado, na Secretaria do Meio Ambiente, afirma que fazer parte da associação é importante para a comercialização dos seus produtos e para receber o apoio do governo local.
Assim, faz parte do plano diretor de Teresópolis incentivar a criação de novos grupos de agricultores ecológicos. Um exemplo dessa ação é a parceria da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado do Rio de Janeiro (EMATER-RIO) com o Programa Rio Rural, que objetiva a transição da agricultura não orgânica para uma prática sustentável.
Vantagens da agricultura sustentável
Dentre os benefícios das práticas agroecológicas, está o desenvolvimento da agricultura familiar e a menor interferência na natureza, com a utilização de menos agrotóxicos. Segundo o Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Agrícola (Sindag), o Brasil é o maior consumidor de agrotóxicos do mundo. Em 2009, o país comercializou, legalmente, quase um bilhão de litros de agrotóxicos, o que significa que cada brasileiro consumiu 5,2 kg do produto ao longo do ano.
Mas o cultivo orgânico vai muito além de não usar agrotóxicos. A agroecologia, segundo a ABIO, é:
• tratar o solo como um organismo vivo, protegendo-o da erosão e fornecendo-lhe matéria orgânica;
• nutrir as lavouras através desse solo vivo, suplementando-as com materiais naturais de acordo com as necessidades das plantas;
• tornar as plantas resistentes a pragas e doenças e, só em último caso, lançar mão de extratos e caldas, defensivos elaborados com elementos naturais de baixa ou nenhuma toxicidade;
• utilizar água de boa qualidade na irrigação das lavouras e na higienização dos produtos;
• respeitar a natureza dos animais, proporcionando bem-estar às criações através de alimentação e tratamentos adequados.
Com isso, os produtos orgânicos possuem muitas vantagens. Segundo uma publicação da Associação Internacional e Americana de Nutricionistas Clínicos (em inglês, International & American Associations of Clinical Nutritionists - IAACN), alimentos orgânicos apresentam, em média, 63% a mais de cálcio, 73% mais ferro, 118% mais magnésio, 178% mais molibdênio, 91% mais fósforo, 125% mais potássio e 60% mais zinco que os alimentos convencionais. Além disso, possuem menos mercúrio (29%), substância que pode causar doenças graves.
Fonte: http://www.agenda21comperj.com.br/noticias