segunda-feira, 30 de agosto de 2010

A vantagem dos transportes sobre trilhos


27/08/2010 - 9h33

Fonte: www.triangulo.org.br

Rápidos, baratos e seguros. Os ambientes urbanos só têm a ganhar com os trens

O trem revolucionou a questão dos transportes no século XIX. Principalmente após a Revolução Industrial, quando esse transporte foi fundamental para a deslocação das matérias-primas para as fábricas e também para levar produtos até as pessoas de re-giões distantes.

Ao longo do século XIX e na primeira metade do século XX, principalmente na Europa e na América do Norte, muitas ferrovias foram construídas promovendo a integração nacional, estimulando o comércio e facilitando a circulação de pessoas e mercadorias.

Em alguns países, como os Estados Unidos e o Canadá, foram construídas grandes ferrovias, algumas que até cruzam o território, ligando os oceanos Atlântico e Pacífico. No entanto, entre as décadas de 1940 e 1960, houve um certo declínio das ferrovias, que cederam lugar às estradas de rodagem.



DECLÍNIO

Atualmente, se a malha ferroviária brasileira fosse dividida pela extensão do País, certamente teríamos números bem menores que os europeus. Mas para isso há uma explicação, segundo o professor-doutor da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, Telmo Giolito Porto. "França, Alemanha, Bélgica, Espanha e, fora da Europa, o Japão, têm densa malha ferroviária e maior percentual da matriz de transporte atendido por ferrovia. Não podemos, contudo, esquecer das dificuldades do Brasil, escassez e custo do capital, e topografia.

Entre planalto e portos, sempre há uma serra no Brasil e vencer serras por ferrovia é especialmente caro, em função das exigências de raio mínimo e rampa máxima, típicas da ferrovia", esclarece.

Além disso, há também o fato de não só o Brasil, mas diversos países em desenvolvimento optarem pelo investimento em transportes rodoviários a partir da década de 50. No livro "Transportes no Brasil: a Opção Rodoviária", de Margarida Cintra Gordinho, a autora explica que o fracasso da maioria das ferrovias brasileiras começou quando elas foram impossibilitadas de saldarem os juros dos empréstimos devidos ao Governo Federal. Por causa disso, elas acabaram transferindo seus equipamentos e propriedades ao Estado. "O avanço do projeto de industrialização, a partir de 1930, a integração do mercado interno e a centralização estatal nos investimentos para o crescimento do País levaram ao abandono da prioridade para a ferrovia".

Foi então no governo de Juscelino Kubitschek que a escolha pelo transporte sobre rodas ocorreu, com a instalação da indústria automobilística no Brasil.

Assim, esse sistema se consolidou na época como a modalidade de integração.



ASCENSÃO

A partir da década de 70, os transportes sobre trilhos voltaram a ter uma ascensão, graças a vários fatores. A crise do petróleo, o desenvolvimento tecnológico - que trouxe modernidade para o setor de transportes - além da própria expansão populacional urbana, foram alguns dos motivos que exigiram maiores investimentos em transportes de massa.

E essas necessidades continuam tão atuais - e talvez até mais urgentes - do que há quase 40 anos. Um dos maiores problemas da atualidade, que pode ser verificado, principalmente, nos centros urbanos, é o crescimento populacional aliado à facilidade em se adquirir um automóvel. Só isso já é o suficiente para que o investimento no setor seja imprescindível.

Porto acredita que tanto São Paulo como o Rio de Janeiro, por exemplo, têm malhas ferroviárias urbanas com bom potencial; só é preciso tirar um melhor proveito desta capacidade. "Isto envolve investir em diferentes subsistemas - via, eletrificação, sinalização, telecomunicações, material rodante - de maneira coordenada, de modo a se aumentar a oferta e a qualidade do transporte. É necessário dizer que as questões do transporte sobre trilhos em São Paulo e no Rio de Janeiro vêm sendo estudadas há vários anos por especialistas competentes, existe muito conhecimento acumulado. Não existem, portanto, soluções mágicas, geniais de última hora; cumpre apenas seguir o que já se sabe".

Para o doutor em Engenharia de Produção e diretor técnico da Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU), Marcus Quintella, o transporte público sobre trilhos produz "um imensurável lucro humanístico e ambiental" e demonstra com um exemplo: "um metrô padrão, de uma cidade como Salvador, por exemplo, conduziria, anualmente, a uma diminuição de 640 milhões de litros de gasolina, 140 milhões de litros de álcool anidro, 49 milhões de litros de álcool hidratado e mais de 1,7 bilhões de litros de óleo diesel, por conta da menor necessidade de veículos nas ruas. Em valores de 2008, o total de recursos poupados seria de R$ 5 bilhões. A redução da poluição do ar evitaria o desembolso de mais de R$ 160 milhões para mitigação dos impactos gerados. Esse valor seria capaz de sustentar mais de 50 mil Bolsas-Família por ano. Os grandes sistemas metroferroviários brasileiros emitem 75% de óxido de nitrogênio a menos que os automóveis com um ocupante apenas e quase nenhum hidro-carboneto e monóxido de carbono", exemplifica.



VANTAGENS

Em termos de transporte, nenhum outro oferece tanta capacidade de levar pessoas, ocupando menos espaço urbano, como os trens e metrôs. Uma via férrea é capaz de transportar cerca de 60.000 passageiros por hora, por sentido. "Seria impossível transportar a mesma quantidade de pessoas, ocupando a largura de uma via, por veículos rodoviários", diz Porto, que completa: "é por esta razão que muitas vezes nos referimos aos sistemas sobre trilhos como troncais ou estruturadores, pois são capazes de receber a transferência de passageiros de outros modos e de garantir a vitalidade social e econômica nas metrópoles. São as artérias sobre as quais os arquitetos podem planejar uma cidade boa e bela. Num modelo ideal, os trens urbanos aproximam os passageiros do Centro, enquanto o metrô os distribui pelo Centro".

Outra vantagem do sistema ferroviário é a economia de tempo no transporte.

Um estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) identificou que mais de 80 minutos perdidos constantemente no percurso casa-trabalho-casa podem causar uma redução de 21% na produtividade profissional das pessoas. Isso sem contar os congestionamentos, que causam muito desconforto para os usuários do transporte público e também para os cidadãos motorizados, comprometendo a qualidade de vida de todos. "Considerando-se que um trabalhador típico de uma cidade como Rio de Janeiro ou São Paulo gaste, em média, atualmente, três horas por dia dentro de um meio de transporte, o tempo total gasto, numa vida de trabalho de 35 anos, corresponde a três anos e meio de vida perdida dentro de um veículo, público ou particular. Quanto custa isso, em termos de danos físicos e psicológicos?", questiona Quintella.

Basta observar as velocidades médias dos automóveis e ônibus urbanos. É visível que elas diminuem a cada ano, por conta do crescimento dos congestionamentos. “No Rio de Janeiro, há dez anos, certas distâncias que eram cobertas em 40 minutos, hoje levam 70 minutos, produzindo, assim, uma inflação de tempo de 75%, ou seja, 5,8% ao ano”, diz Quintella.

O ganho ambiental é outra vantagem que o transporte sobre trilhos apresenta. Apesar de sua obra causar impactos no ambiente, como ruído e vibração, e provocar reflexos na fauna e na flora, ainda assim, de forma geral, o investimento compensa. Porto acredita que os ganhos ambientais das ferrovias são muito maiores que seus impactos negativos. "Basta ver a questão da poluição, da saúde pública e da menor agressão ao meio, em função de menor ocupação do terreno".

O lucro humanístico, também é visível. Os acidentes de trânsito caem consideravelmente com esse transporte, gerando menos danos às famílias e à sociedade de forma geral. Isso sem falar de outras vantagens, como a diminuição dos tempos de viagem, a economia de combustíveis e a redução de congestionamentos. Segundo Quintella, há também uma valorização dos imóveis residenciais e de negócios próximos às estações de sistemas metroferroviários.

O transporte impulsiona o desenvolvimento econômico regional, gera empregos e reduz os custos de manutenção das vias urbanas, elevando a arrecadação tributária. “Além disso, são gerados benefícios intangíveis como conforto, segurança, tranquilidade e qualidade de vida”, acredita Quintella. (Fonte: Revista Ambiente Urbano)

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